quinta-feira, 14 de junho de 2012

PERFIL DO(A) EDUCADOR(A) EM PAULO FREIRE


          O Parecer CNE-CP nº 08 de 2012 sobre as Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos, aprovado em 03-03-2012, trazem aspectos que têm a ver com o ilustre Professor Paulo Freire, precursor desta realidade humana, ávida do que é realmente humano. Esta, sem dúvida, acontece através da contribuição de uma educação integral, tendo o ser humano como sujeito. Nesse sentido, suas aptidões naturais vão sendo desenvolvidas e se transformando em habilidades a favor de sua realização pessoal e social. O direito de estar no mundo e ter neste as condições para esse desenvolvimento concorrem para a consciência da co-responsabilidade na construção de uma sociedade solidária, participativa, onde a justiça se concretiza da melhor forma possível. Em conseqüência, a paz que desta procede vem fortalecer a dignidade da qual se revestem os sujeitos da educação que interagem todo o tempo de seu processo, ao longo da existência.
O presente marcador, intitulado “O texto no Contexto e o Pretexto” vem numa boa hora em que, ligando fatos significativos, situações, necessidades e urgências da educação no Brasil e no mundo, podemos destacar Paulo Freire como grande mestre, Patrono da Educação Brasileira.
Outro destaque é a forma como desempenhou os seus dons e carismas nas pegadas do Mestre Jesus de Nazaré. É oportunidade feliz para recordar toda a Pedagogia que há dois mil anos permanece sempre a atual, necessária, simples, fácil de ser aplicada na expectativa dos melhores resultados na educação de uma época e para além do tempo. Continua urgente a busca de paradigmas para “a educação em novos tempos”. Este é o ponto de chegada e de partida. Recomecemos...


VIRTUDES DO EDUCADOR
Paulo Freire

Gostaria de falar sobre um assunto, que como educador me preocupa muito. É sobre o que costumo chamar de “Reflexão crítica sobre as virtudes da educadora ou do educador”.
Estas virtudes não podem ser vistas como algo, com o qual algumas pessoas nascem ou um presente que uns recebem, mas como uma forma de ser, de encarar, de comportar-se, de compreender, tudo o que se cria através da prática, na busca da transformação da sociedade. Não são qualidades abstratas, que existem independentes de nós, ao contrário, que se criam conosco (e não individualmente).
As virtudes das quais vou falar não são virtudes de qualquer educador, mas daqueles que estão comprometidos com a transformação da sociedade injusta e na criação de uma sociedade mais justa.
(...)
Discurso e Prática
1. Ser coerente entre o que se diz e o que se faz

A primeira virtude ou qualidade que gostaria de destacar é a virtude da coerência. Coerência entre o discurso que se fala e que anuncia a opção e a prática que deveria estar confirmando este discurso.
(...)
Palavra e Silêncio
2. Saber trabalhar a tensão entre a palavra e o silêncio

Outra virtude que emerge a experiência é a virtude de aprender a lidar com a tensão entre a palavra e o silêncio. Esta é uma grande virtude que nós, educadores, devemos criar.
O que eu estou querendo dizer, com isto?
Trata-se de trabalhar a tensão permanente que se cria entre a palavra do educador e o silêncio do educando, entre a palavra dos educandos e o silêncio do educador.
(...)
Subjetividade / Objetividade
3. Trabalhar criticamente a tensão entre a subjetividade e a objetividade

Outra virtude é a de trabalhar de forma crítica a tensão entre subjetividade e objetividade, entre consciência e mundo, entre ser social e consciência.
(...)
Aqui e Ali
4. Diferenciar o aqui e agora do educador do aqui e agora do educando

Outra virtude do educador e da educadora é como não só aprender mas viver a tensão entre o aqui e agora do educador e o aqui e agora dos educandos.
Porque na medida em que não compreendo a relação entre o “meu aqui” e “o aqui” dos educandos é que começo a descobrir  que o meu “aqui” é o “lá” dos educandos.
Não existe “lá” sem “aqui”, o que é obvio.
(...)
Espontaneísmo / Manipulação
5. Evitar o Espontaneísmo sem cair na manipulação

Existe outra virtude que é evitar cair em práticas espontaneístas sem cair em posturas manipuladoras.
O contrário destas duas posições é o que chamo de uma posição radicalmente democrática.
(...)
Teoria e Prática
6. Vincular teoria e prática

Outra virtude é a de viver intensamente a relação profunda entre a prática e a teoria, não como superposição, mas como unidade contraditória. Viver esta relação de tal maneira que a prática não possa prescindir da teoria.
(...)
Paciência / Impaciência
7. Praticar uma paciência impaciente

Outra virtude é a de aprender a experimentar a relação tensa entre paciência e impaciência, de tal maneira que jamais se rompa a relação entre as duas posturas.
(...)
Texto e Contexto
8. Ler o texto a partir da leitura do contexto

Finalmente, eu diria que tudo isto, que estou dizendo, tem a ver com a relação entre a leitura do texto e a leitura do contexto.
(...)

Carta aos Educadores
Esta é uma carta pequena, amiga que lhes faço despretensiosamente.
O espaço de que disponho não me permite ir além de algumas rápidas considerações em torno de um ou dois pontos que me parecem fundamentais em nossa prática. Pontos, de resto, ligados entre si, um implicando no outro.
1. O primeiro deles é o da necessidade que temos - educadoras e educadores - de viver, na prática, o reconhecimento óbvio de que nenhum de nós está só no mundo. Cada um de nós é um ser no mundo, com o mundo e com os outros. Viver ou encarnar esta constatação evidente, enquanto educadora ou educador, significa reconhecer, nos outros – os educandos no nosso caso – o direito de dizer a sua palavra. Direito deles de falar que corresponde ao nosso dever de escutá-los.
2. Mas, como escutar implica em falar também, o dever que temos de escutá-los significa o direito que igualmente temos de falar-lhes. Escutá-los, no fundo, é falar com eles, enquanto simplesmente falar a eles seria uma forma de não ouvi-los. Dizer-lhes sempre a nossa palavra, sem jamais nos oferecermos às palavras deles, arrogantemente convencidos de que estamos aqui para salvá-los, é uma boa maneira que temos de afirmar o nosso elitismo, sempre autoritário.
3. Esta não pode ser, porém, a maneira de atuar de uma educadora ou de um educador cuja opção é libertadora. Quem assim trabalha, consciente ou inconscientemente, ajuda a preservação das estruturas dominadoras.
4. O outro ponto, ligado a este, e a que eu gostaria de me referir é o da necessidade que temos os educadores e educadoras de “assumir” a ingenuidade dos educandos para poder, com eles, superá-la. Estando num lado da rua ninguém estará, em seguida, no outro, a não ser atravessando a rua. Se estou do lado de cá, não posso chegar ao lado de lá, partindo de lá, mas de cá. (...)
Sejamos coerentes. Já é tempo. Fraternalmente, Paulo Freire"
São Paulo, abril de 1982.

“Toda leitura de texto
pressupõe uma rigorosa
leitura do contexto”.
Paulo Freire


O ilustre Professor nordestino demonstra ser profundo conhecedor da prática de Jesus Mestre a qual retoma, assimila e propõe como verdadeiro caminho para as ações educativas  de todo(a) educador(a).
Constamos isto ao verificar a Pedagogia de Jesus Mestre através da leitura do texto, no contexto, mantendo um real pretexto para a sua prática libertadora.
Há, portanto, motivos suficientes para reconhecimento da importância e declaração do renomado Professor como Patrono da Educação Brasileira. Vejamos a notícia seguinte:
 
16/04/2012 - 12h50 Sanções/Vetos - Atualizado em 16/04/2012 - 14h04
Paulo Freire é declarado patrono da educação brasileira

O educador Paulo Freire (1921-1997) é oficialmente o Patrono da Educação Brasileira. A homenagem, proposta originalmente pela deputada Luiza Erundina (PSB-SP), foi sancionada pela presidente Dilma Rousseff na última sexta-feira (13) como a Lei 12.612/2012. A Comissão de Educação, Cultura e Esporte Senado (CE) aprovou o projeto (PLC 50/2011) em março deste ano.
Paulo Freire nasceu no Recife em 1921, numa família de classe média, mas devido à crise econômica de 1929 e à morte do pai em 1934, viveu uma adolescência difícil. Apesar disso, conseguiu concluir os estudos e, em 1943, aos 22 anos, ingressou na Faculdade de Direito do Recife. Ele se formou, mas não chegou a exercer a profissão, preferindo dar aulas de língua portuguesa numa escola de segundo grau.
Em 1947, Freire assumiu o cargo de diretor de educação do Serviço Social da Indústria (Sesi), no Recife, quando passou a se interessar pela alfabetização de adultos e  pela educação popular. Na década de 1950, foi professor universitário e concluiu o doutorado em Filosofia e História da Educação.
Nos anos 60 trabalhou com movimentos de educação popular e, no governo de João Goulart, coordenou o Plano Nacional de Alfabetização, com objetivo de tirar 5 milhões de pessoas do analfabetismo. Seu método, conhecido como “pedagogia da libertação”, tinha como proposta uma educação crítica a serviço da transformação social.
Em 1964, depois da ascensão dos militares ao poder, Paulo Freire foi preso e exilado. Morou na Bolívia, Chile, Estados Unidos e Suíça. No Chile, em 1968, escreveu sua obra mais conhecida, A pedagogia do oprimido. Ao longo da década de 70, desenvolveu atividades políticas e educacionais em diversos países da África, Ásia e Oceania. Ele só retornou ao Brasil em 1980 com a Anistia.
Filiado ao PT, atuou em programa de alfabetização de adultos do partido. Em 1989, com a eleição de Erundina para a Prefeitura de São Paulo, foi nomeado secretário de Educação, cargo em que permaneceu até 1991. Freire morreu em maio de 1997.
(Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

2 comentários :

  1. Em parceria com os novos tempos, que ressuscitam as propostas do Mestre Nazareno, cada dia mais atuais, penso que não há como fugir das responsabilidades de educar, a começar conosco mesmos, sem pensarmos numa pedagogia do amor e da compreensão, que devem ser incondicionais. Sempre que possível estarei aqui relacionando minhas vivências enquanto educadora do milênio, cujas ações vêm sendo pautadas na ética legitimamente cristã, que acima de todas as regras, práticas e normas vigentes, colocam o ser humano, com o qual me deparo todos os dias, sempre em primeiro lugar. Peço permissão para contar alguns “causos” da minha trajetória, todos calçados numa realidade muito complexa e cruel. Omitirei sempre os nomes dos envolvidos, utilizando-me de pseudônimos, para não comprometer a excelência e a ética a que estamos jungidos neste trabalho de amor pelo semelhante.
    Lendo o artigo de Freire coloquei-me a pensar nos colegas de profissão e em suas práticas, e me entristeço por reconhecer que ainda dista o tempo em que o professor tomará consciência da dimensão de sua importância no mundo, e em nosso caso em particular, no Brasil de hoje. Muitos de meus colegas admitem a profissão de professor, embora muitos não tenham especificamente um curso na área das licenciaturas, mas não se concebem educadores, antes fogem dos compromissos que tal título lhes confere. É estranho, mas real. Não faço aqui apologia do “messianato” do educador que se esfalfa em seus compromissos e muitas vezes assume os de outros, ou os da própria Instituição para a qual trabalha. Luto pelo engajamento da família no processo educacional e não vejo com bons olhos esse “abrir mão” da função de primeiros educadores dos filhos, como muitos pais o têm feito, relegando a e somente à escola, a tarefa de educar.
    Somente não consigo compreender como um professor consegue ser indiferente ao aluno, enquanto ser humano, e conceber êxito no processo ensino-aprendizagem, sem levar em conta que está se relacionando com o outro, e que nesse encontro muito se aprende e muito se ensina.
    Tenho vários colegas de profissão, se não a maioria, infelizmente, que entram em sala de aula, como quem vai programar um computador, vai instalar softwares. É absurdo, mas é assim que os vejo no relacionamento com seus alunos. E fico ainda mais indignada, pois são também “meus” alunos e tenho sobre eles um pouco daquela possessividade da mãe sobre os filhos, que à medida que os tenta proteger da agressividade do crescer e do “amadurecer”, acaba por se tornar também opressora e exagerando no que diz ser cuidados.
    Amados que porventura estejam a me ouvir agora, o que vejo todos os dias nas escolas pelas quais passo é de envergonhar qualquer que se diga cristão. Num dia desses em conversa com alguns alunos do 2º ano do Ensino Médio, percebi a angústia dos mesmos em relação a algumas disciplinas, não pela dificuldade de aprendizagem das mesmas, mas pelo professor-transmissor que “aterroriza” os jovens. Era um estranhamento de dar dó. “Ele(a) não nos escuta, professora”, “ele(a) nos responde mal sempre”, “temos medo de pedir explicações”, “ele(a) nos trata como lixo”, “ele(a) não tem educação”...
    Esse “ele não tem educação” é sempre a gota d’água. Quem pode dar o que não tem? Como diria o Mestre dos Mestres, “pode um cego guiar outro”?
    Mas esta é a realidade de nossas escolas hoje, que mais parecem sistemas prisionais de terceiro mundo. Aff! Se não levantar e respirar profundamente, fica impossível prosseguir. O sistema quer continuar a engolir os educadores e abaular as escolas de professores sucateados, que repetem todos os dias “Um dia saio disso aqui”. Como nos diz Freire, isso que faz o Sistema de dizer algo e fazer totalmente o contrário já está prá lá de ultrapassado. Que os que se encontrem nessa categoria de Educadores possam se unir nesse mister de acordar o Brasil mais humano em um amanhã mais próximo.
    Até a próxima vez!
    Professora Roberta Cavalcante

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    1. Caríssima Roberta.
      Seu texto revela sua maneira de pensar, sentir e agir no mundo da educação.Educadores de Belo Horizonte e Recife neste mês de agosto de 2012, foram os primeiros a terem notícias desta nova comunidade que se cria com a finalidade de promovermos a mudança do que precisa ser mudado, ou em dar continuidade a tantos esforços envidados em prol de novos tempos para a educação brasileira, com dignidade e justiça, como fizeram os personagens que destacamos. Abraço grande. Anísia

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