sábado, 27 de abril de 2013

A EDUCAÇÃO PARA ALÉM DE UMA ÉPOCA

A Escola Normal “Dom Joaquim Silvério de Souza” esteve incluída em Projetos inéditos de Educação em Minas Gerais. A vinda de personagens portadores de grande competência em educação para a capital mineira contribuiu significativamente para a mudança de visão em educação. Isto, não somente em metodologias, como em conhecimento do ser humano, na condição de sujeito pensante e conhecedor da realidade em que se encontrava; e predisposto a atuar, com habilidades favoráveis à mudança, à construção de outro tipo de comunidade humana.

Helena Antipoff nos anos 60
Com a chegada em Belo Horizonte da Professora e Psicóloga Helena Antipoff, em 1929, procedente de Genebra, discípula de Eduard Claparède com quem trabalhava, dá início a um novo tempo de perspectivas novas para a educação no Brasil.A Escola Nova no Brasil já estava em fase de implantação.

D. Helena, suas discípulas e equipe devidamente preparada darão início a dezenas de iniciativas, entre as quais a criação de Escolas Normais instaladas em duas regiões distantes e distintas: uma em Ibirité, para atender a vizinhança ruralista da capital; e outra em Conselheiro Mata, município de Diamantina, para atender a uma das regiões mais carentes do Estado. Estas escolas criadas por D. Helena foram contempladas com as presenças de grandes mestras e mestres da época que apostaram em suas teorias e práticas. O grande escritor mineiro, conhecedor de sua vida e obra relembra o momento significativo e elucidativo do fato:

“Acabo de descobrir que 2009 tem alguma coisa a ver com 1929. Não, eu não havia nascido ainda, mas foi em 1929, há 80 anos, que Helena Antipoff aceitou o convite para trocar Genebra, onde trabalhava com Édouard Claparède, por Belo Horizonte. Ela poderia ir para o Egito, onde também a queriam. Mas aceitou o chamado do governo Antônio Carlos, e o ensino em Minas Gerais nunca mais foi o mesmo. (...) No entanto, essa mulher excepcional, em plena tragédia do comunismo russo, consegue iniciar seu trabalho de educação de “delinqüentes”, como eram chamados jovens perdidos nos bosques ‘tosquiados como cordeiros’. ‘É difícil imaginar o que passei no período de 1917 a 1921’ – diz ela. ‘Catava-se resina de árvore para saciar a fome. Armadilhas para pegar um coelho’. (...)

E Helena chega a Minas. Aqui, outro capítulo dessa vida romanesca, do Mar Báltico a Ibirité. Uma geração privilegiada a espera. E ela vai citando Marques Lisboa, Jeane Milde, Alda Lodi, Arduino Bolivar, José Lourenço, Alaíde Lisboa, Lúcia e Mário Casassanta, Guilhermino César, Fernando Magalhães Gomes, Lincoln Continentino, padre Negromonte, Olga Ullman, Elza Moura. Sem contar Abgard Renault e Drummond, o qual também escreveu sobre ela. E ela narra seus primeiros dias naquela Belo Horizonte de 80 anos atrás: ‘Montei também meu próprio ritmo pessoal. Ao chegar à casa, vindo do trabalho, ia me deitar às 21h30. Das 23h às 4h, estudava e preparava aulas. Dormia das 4h às 6h, quando me preparava para chegar à escola às 7h, pegava o bonde e descia na porta da escola. Tudo calmo. A cidade tinha 200 mil habitantes’. Há pessoas que fazem história. Elegante, culta, simples, bem me lembro dela nas famosas festas do milho, na Fazenda do Rosário. (...) Pois uma personagem maravilhosa habitou algum tempo entre nós!”[1]




[1] SANT’ANA. Afonso Romano de. Helena, há 80 anos. Estado de Minas, 11 de outubro de 2009, p. 8. 

Convém conhecer de perto a prática pedagógica da grande psicóloga, discípula de Claparède, através dos fatos, depoimentos de ex-alunas (maioria) e ex-alunos que passaram pelas experiências oferecidas por aquelas e aqueles que perceberam o valor inigualável de uma educação de melhor qualidade para todos(as).
 
 ESCOLA NORMAL DE CONSELHEIRO MATA
 
 A Escola Normal Rural “Dom Joaquim Silvério de Souza”, mais tarde Escola Normal Regional “Dom Joaquim Silvério de Souza”, situada em Conselheiro Mata, distrito de Diamantina, foi criada em 30 de setembro de 1959. A referida Escola mantinha, ao mesmo tempo, o Curso Normal completo para futuras professoras primárias e o Curso Regional de Treinamento para professoras rurais leigas que, mesmo sem habilitação, exerciam o magistério em escolas do meio rural, procedentes prioritariamente das regiões dos Vales do Jequitinhonha, Mucuri, São Francisco e Rio Doce. Regiões essas que se caracterizavam pela carência de recursos humanos preparados para a educação adequada ao seu meio. 


Para elucidar a Educação que se buscou em determinada época, torna-se imprescindível entender a realidade, o palco onde atores sociais desempenham significativos papéis. Todos eles impregnados de ideais inovadores que tinham tudo a ver com um projeto de vida.
Essa Escola interrompeu as suas atividades nos anos 70, aproximadamente, após 30 anos de grande serviço prestado na formação de professores. Porém, permanece viva até o momento, através de pessoas que por ali passaram em diferentes funções e reconhecem o seu valor duradouro. Ao completar sessenta anos de sua criação, em 30 de setembro de 2009, ex-alunas, mestres e funcionários da Escola Normal “Dom Joaquim Silvério de Souza” de Conselheiro Mata, com internato feminino, e ex-alunos do Ginásio “Pe. José de Carvalho”, criado mais tarde, com internato masculino, resolveram comemorar a data para destacar o que significaram esses educandários para a sociedade de ontem e de hoje. Ambos adotaram uma filosofia que faz parte da história da educação no Brasil e que poderia ser mais bem divulgada. O Brasil continua carente de políticas públicas que encaminhem cidadãos e cidadãs em busca de soluções para uma educação básica de melhor qualidade para todos. Alguns aspectos aqui destacados poderão nos introduzir nesta história que continua viva, através de ex-alunos (as), mestres, mestras e funcionários que naquele tempo, foram além de uma época que, de repente, se chama hoje.
















Veja mais:
Fotos inéditas compõem a memória de uma educação que marcou época. 

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