A Escola Normal “Dom Joaquim Silvério de Souza” esteve incluída em Projetos inéditos de Educação em Minas Gerais. A vinda de personagens portadores de grande competência em educação para a capital mineira contribuiu significativamente para a mudança de visão em educação. Isto, não somente em metodologias, como em conhecimento do ser humano, na condição de sujeito pensante e conhecedor da realidade em que se encontrava; e predisposto a atuar, com habilidades favoráveis à mudança, à construção de outro tipo de comunidade humana.
Helena Antipoff nos anos 60 |
D. Helena, suas discípulas e equipe devidamente preparada darão início a
dezenas de iniciativas, entre as quais a criação de Escolas Normais
instaladas em duas regiões distantes e distintas: uma em Ibirité, para
atender a vizinhança ruralista da capital; e outra em Conselheiro Mata,
município de Diamantina, para atender a uma das regiões mais carentes do
Estado. Estas escolas criadas por D. Helena foram contempladas com as
presenças de grandes mestras e mestres da época que apostaram em suas
teorias e práticas. O grande escritor mineiro, conhecedor de sua vida e
obra relembra o momento significativo e elucidativo do fato:
“Acabo de descobrir que 2009 tem alguma coisa a ver
com 1929. Não, eu não havia nascido ainda, mas foi em 1929, há 80 anos, que
Helena Antipoff aceitou o convite para trocar Genebra, onde trabalhava com Édouard
Claparède, por Belo Horizonte. Ela poderia ir para o Egito, onde também a
queriam. Mas aceitou o chamado do governo Antônio Carlos, e o ensino em Minas
Gerais nunca mais foi o mesmo. (...) No entanto, essa mulher excepcional, em
plena tragédia do comunismo russo, consegue iniciar seu trabalho de educação de
“delinqüentes”, como eram chamados jovens perdidos nos bosques ‘tosquiados como
cordeiros’. ‘É difícil imaginar o que passei no período de 1917 a 1921’ – diz ela. ‘Catava-se
resina de árvore para saciar a fome. Armadilhas para pegar um coelho’. (...)
E Helena chega a Minas. Aqui, outro capítulo dessa
vida romanesca, do Mar Báltico a Ibirité. Uma geração privilegiada a espera. E
ela vai citando Marques Lisboa, Jeane Milde, Alda Lodi, Arduino Bolivar, José
Lourenço, Alaíde Lisboa, Lúcia e Mário Casassanta, Guilhermino César, Fernando
Magalhães Gomes, Lincoln Continentino, padre Negromonte, Olga Ullman, Elza
Moura. Sem contar Abgard Renault e Drummond, o qual também escreveu sobre ela. E
ela narra seus primeiros dias naquela Belo Horizonte de 80 anos atrás: ‘Montei
também meu próprio ritmo pessoal. Ao chegar à casa, vindo do trabalho, ia me
deitar às 21h30. Das 23h às 4h, estudava e preparava aulas. Dormia das 4h às 6h, quando me preparava para chegar à escola às 7h, pegava o bonde e descia na porta
da escola. Tudo calmo. A cidade tinha 200 mil habitantes’. Há pessoas que fazem
história. Elegante, culta, simples, bem me lembro dela nas famosas festas do
milho, na Fazenda do Rosário. (...) Pois uma personagem maravilhosa habitou
algum tempo entre nós!”[1]
[1]
SANT’ANA. Afonso Romano de. Helena, há 80 anos. Estado de Minas, 11 de outubro de 2009,
p. 8.
Convém conhecer de perto a prática pedagógica da grande psicóloga, discípula de Claparède, através dos fatos, depoimentos de ex-alunas (maioria) e ex-alunos que passaram pelas experiências oferecidas por aquelas e aqueles que perceberam o valor inigualável de uma educação de melhor qualidade para todos(as).
ESCOLA NORMAL DE CONSELHEIRO MATA
A Escola Normal Rural “Dom Joaquim Silvério de Souza”, mais tarde
Escola Normal Regional “Dom Joaquim Silvério de Souza”, situada em Conselheiro
Mata, distrito de Diamantina, foi criada em 30 de setembro de 1959. A referida
Escola mantinha, ao mesmo tempo, o Curso Normal completo para futuras
professoras primárias e o Curso Regional de Treinamento para professoras rurais
leigas que, mesmo sem habilitação, exerciam o magistério em escolas do meio
rural, procedentes prioritariamente das regiões dos Vales do Jequitinhonha,
Mucuri, São Francisco e Rio Doce. Regiões essas que se caracterizavam pela
carência de recursos humanos preparados para a educação adequada ao seu meio.
Para elucidar a
Educação que se buscou em determinada época, torna-se imprescindível entender a
realidade, o palco onde atores sociais desempenham significativos papéis. Todos
eles impregnados de ideais inovadores que tinham tudo a ver com um projeto de
vida.
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Essa Escola interrompeu as suas atividades nos anos 70, aproximadamente, após 30
anos de grande serviço prestado na formação de professores. Porém, permanece
viva até o momento, através de pessoas que por ali passaram em diferentes
funções e reconhecem o seu valor duradouro. Ao completar
sessenta anos de sua criação, em 30 de setembro de 2009, ex-alunas, mestres e
funcionários da Escola Normal “Dom Joaquim Silvério de Souza” de
Conselheiro Mata, com internato feminino, e ex-alunos do Ginásio “Pe. José de
Carvalho”, criado mais tarde, com internato masculino, resolveram comemorar a
data para destacar o que significaram esses educandários para a sociedade de
ontem e de hoje. Ambos adotaram uma filosofia que faz parte da história da
educação no Brasil e que poderia ser mais bem divulgada. O Brasil
continua carente de políticas públicas que encaminhem cidadãos e cidadãs em
busca de soluções para uma educação básica de melhor qualidade para todos. Alguns aspectos aqui
destacados poderão nos introduzir nesta história que continua viva, através de
ex-alunos (as), mestres, mestras e funcionários que naquele tempo, foram além
de uma época que, de repente, se chama hoje.
Veja mais:
Fotos inéditas compõem a memória de uma educação que marcou época.
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